quarta-feira, outubro 26, 2005

Depois duma ausencia mais ou menos prolongada volto com um dia em cheio.
Notei logo que algo de esquisito se estava a passar quando cheguei a paragem de autocarro. Passou o primeiro autocarro e o condutor ficou a olhar para mim com um olhar que julguei enternecido. Passou um segundo autocarro ja eu estava sozinha na paragem e o condutor abrandou e fez-me um cinal com a cabeca como que a perguntar se nao queria apanhar o autocarro. Abanei a cabeca e ele encolheu os ombros, sorriu e seguiu caminho. Quando por fim veio o autocarro que queria apanhar nao consegui avancar mais do que um passo de tao cheio que vinha. Como ia mesmo ao lado do condutor aproveitei para lhe perguntar se o dia limite do passe era inclusive ou nao. O que eu fui fazer! lolol O condutor respondeu-me ao que perguntei e nao perguntei. Falou-me da vida dum condutor de autocarro, de como eram amigos dos passageiros, de como deixavam os velhinhos passar nas passadeiras e faziam sinal aos outros condutores para pararem tambem, das horas a que se tinha que levantar, das carreiras que nao eram certas, da falta de civismo das pessoas, dos problemas que as maquinas traziam... enfim, acabei por desistir de me sentar e fiquei a ouvi-lo o meu percurso todo. Abri a boca meia duzia de vezes mas isso pouco importou. Ele queria era alguem que o ouvisse, que prestasse atencao ao que ele fazia e que o valorizasse.
Sai do autocarro bem disposta, com aquela sensacao de paz interior com que se fica depois de fazer alguma coisa pelos outros. E no entanto fiz tao pouco. Limitei-me a ouvir e ainda assim o condutor despediu-se de mim com um sorriso aberto e um ate qualquer dia. Senti-me mesmo bem comigo propria. Mas isto foi apenas o comeco...
La fui eu para a minha aulinha preferida, satisfeita da vida. Tinha passado metade da aula quando eu, pobre ignorante, resolvi fazer uma pergunta. Maldita boa disposicao que me deu vontade de participar na aula! O prof vira-se para mim e diz para me levantar e ir ate ele. As minhas pernas tremiam enquanto passava pelos 30 alunos que la estavam. Sentou-me numa cadeira ao pe do quadro e propos-me ser paciente num role-playing. So nao me benzi pq nao sou mt religiosa!!! Um role-playing a frente de 30 alminhas, PORQUE EU??? Bem, passando um bocado a frente... parece que me sai bem. Deram-me os parabens e tudo. Disseram que fui mt espontanea, mas na verdade senti que estava a desempenhar um papel, mas pronto. Acabou por ser uma experiencia gira e gratificante. A pala disso fiquei a falar com mais duas raparigas, o que foi bom.
Como se nao bastasse esta actividade toda, a tarde ainda presenciei um espectaculo sordido. Um tipo agarrou em tres pedras de calcada e espatifou o vidro da porta da frente do autocarro que estava na paragem. Claro esta que fez o servicinho e fugiu dali para fora. E daquelas coisas inacreditaveis. Eu tava na paragem errada e sabia-o, quando aquilo aconteceu estava a preparar-me para ir para o outro lado da rua... Acabei por so o fazer dai a hora e meia. Acho incrivel como as pessoas viram a cabeca para o outro lado e fingem que nao foi nada com elas. As pessoas que tavam dentro do autocarro e podiam ser testmunhas do condutor meteram-se no primeiro autocarro que apareceu e foram embora. Houve pessoas como eu, que estavam na paragem e so assistiram a metade do filme, que ficaram por ali, perguntaram o que se tinha passado mas tambem viraram costas quando veio o autocarro delas. Como nao arredei pe fiquei a saber que afinal o rapaz que fez a gracinha tinha entrado dentro do autocarro em questao e recusou-se a picar ou comprar bilhete. Como o condutor nao arrancou antes dele comprar bilhete ou mostrar o passe ele saiu do autocarro e espatifou o vidro. Uma das pedras acertou na perna do motorista que quando saiu do autocarro tava a coxear. Como e que e possivel presenciar uma cena destas e voltar costas?? Nao pretendo armar-me em madre Teresa, mas nao quis ser igual aos que nao se preocupam. Fiquei por ali a falar com o motorista ate aparecer a policia. Dei os meus dados e contei o que tinha visto. Depois disso perguntei se ainda precisavam da minha ajuda, disseram que nao, agradeceram a ajuda e apanhei o meu autocarro.
Perdi hora e meia do meu dia. Mas o que e isso?? Senti-me bem de novo, desta vez por ter cumprido com o meu dever civico.
Nao custa nada. Nao doi.

segunda-feira, outubro 17, 2005

My lover is gone...
Ontem fui com ele ao aeroporto. Tudo razoavelmente bem ate me dizer que tava na hora de ir. Nuvens carregadas pairaram sobre o meu coracao.
Um ultimo abraco, um ultimo beijo, um ultimo toque e foi-se. Malditas escadas rolantes que o levaram para longe dos meus bracos. Maldito aviao que o transportou para longe da minha vista.
Quando voltei costas senti-me vazia. Senti que uma parte importante de mim ficava para tras.
Sao so duas semanas repeti para mim dezenas de vezes, como se esse numero pudesse afastar a tristeza. Nao afastou. De pouco me vale serem duas semanas se me vao parecer dois meses.
Disse-me que tive azar em escolher um namorado que teria que viajar. Sera que teria feito diferente se soubesse isso de antemao? Tenho a certeza que nao por isso agora tenho mais e que me aguentar a bronca! lolol
Sao so mais 12 dias. 288 horas. 17280 minutos.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Ha um senhor que costuma andar pelas minhas bandas a vender lencos de papel. Vi-o pela primeira vez a cerca de 3 anos. Chamou-me a atencao porque tinha uma expressao extremamente doce. E estrangeiro. Anda sempre com um daqueles carrinhos de supermercado, com tachos pendurados. Um dia apanhei-o a lavar a roupa numa fonte. Outra vez vi-o a encher garrafas de plastico num chafariz. Nao sei onde dorme, mas adivinho que nao e entre 4 paredes.
Hoje voltei a ve-lo e fiquei a pensar nele. A expressao doce deu lugar a uma expressao melancolica. O olhar parece triste e cansado e ja nao sorri. So nao lhe comprei os lencos porque ando mais lisa que ele, mas nao descanso enquanto nao lhos comprar. Quero devolver um sorriso aquela expressao sofredora, ainda que apenas por uns segundos.
Acho um disparate quando dizem aquelas frases do genero «devias dar gracas por aquilo que tens. Ha muitos sem nada. Tomara muitos ter os teus problemas». Tretas! O sofrimento nao e de todo comparavel. Deveria ser feliz por ter uma casa? Por ter alguem que me sustente? Isso deveria sobrepor-se a dor de perder alguem querido? Nao! So cada um sabe o que doi e quando doi. Nenhuma dor deve ser menosprezada. Nem sequer a dor no peito de um hipocondriaco.

sábado, outubro 08, 2005

"O amor pode ser cego mas o ciume ve demais". Apesar de ser uma ciumenta incorrigivel tenho nocao disso, do que o ciume nos faz ver a mais. Dos filmes que nos faz fazer, por vezes ridiculos aos olhos dos outros, mas que a nos nos fazem todo o sentido.
Odeio ter ciumes. Sinto ca dentro qualquer coisa a fervilhar. Fico com o pensamento toldado, fico revoltada, ansiosa, irritada. E horrivel!
Quem me dera mudar. Espero um dia consegui-lo. Embora nao totalmente... ha sinais que nao quero ignorar, instintos que nao quero calar. Quero apenas conseguir controla-los em vez de ser controlada por eles. Assusta-me a irracionalidade por que sou tomada.
"Hoje esqueci-me que as vezes tambem sabes ver
As vezes tambem sabes ter nocao
Hoje vens tu ver restos de mim no chao.
Hoje esqueci-me que sabia perder
Que me tinhas na mao
Hoje vens tu perdida no mesmo chao
Quem nao quis saber
Tirou a mao e partiu
Deu o que nao tinha para levar
Fechei o corpo e fugi.
Hoje vens tu
E eu ja sei de cor
O travo do teu licor
E os restos de mim no chao.
Quem nao quis saber
Tirou a mao e partiu
Deu o que nao tinha para levar
Fechei o corpo e fugi
...Mas ha sempre mais um dia
E nunca vai parar.
Quem nao quis saber
Tirou a mao e partiu
Deu o que nao tinha para levar
Fechei o corpo e fugi.
Restos. Toranja

quarta-feira, outubro 05, 2005

Estou a ouvir o cd novo dos toranja com uma sensacao um tanto ou pouco melancolica.
Hoje e feriado e lembrei-me que seria melhor para o meu namorado vir almocar ca a casa em vez de estar por casa sozinho. Enganei-me. Ele prefere almocar sozinho.
Passou por aqui um casamento. Costumo sorrir quando ouco as buzinas dos carros, mas hoje o sorriso nao foi esbocado. Desejo com todas as forcas uma vida a dois, mas sera que isso e algo por que tanto almejar?
A maior parte dos casais que conheco nao sao felizes (outro casamento), porque raio isso ha-de ser diferente comigo?
Talvez a minha mae tenha razao, leio demasiados romances cor de rosa.

"Fui eu
Vem ver
fui eu
vem ver
Ha vidros no chao
Ha folhas no chao
Ha livros no chao
Lutamos em vao
E claro que temos que andar
Somos tempos adversos
Que puxam para tras
E claro que temos que ver a estrada
Que um dia a historia acaba...
Quem foi?
Quem viu?
Quem foi?
Quem viu?
Os vidros no chao
sao restos de nos
Os vidros no chao
perdem a voz.
E claro que temos de andar
Entre tempos adversos
Que puxam para tras
E claro que temos que ver a estrada
Que um dia a historia acaba...
...Que um dia a historia acaba."
Tempos Adversos. Toranja