Hoje de manha o meu pai la me deu a volta para me sentar com ele a ouvir o novo aparelho de som. Pos a banda sonora do Blade Runner, para puxar pelas cordas, diz ele.
No inicio nao estava ali, mas depois la me deixei absorver pela musica, encostei-me ao ombro dele e fechei os olhos.
Assim que fechei os olhos fiz uma viagem no tempo. Voltei muito para tras, uns 18 anos. Recordei como entrava na sala com pezinhos de la e via o meu pai sentado no chao em frente a aparelhagem a bater com as maos nas pernas ao ritmo da musica. Folk ou musica celta a maior parte das vezes. Cresci ao som dessas musicas, talvez por isso agora goste tanto e me acalme.
Dirigia-me a ele de gatas, para nao fazer barulho, com um riso na garganta dificil de conter. Abracava-o por tras agarrando-me ao seu pescoco e ele fazia-me dar a cambalhota por cima dele e aterrar no seu colo. Fazia-me cocegas ate me doer a barriga de tanto rir. Depois acalmavamos e sentava-me no seu colo a acompanhar o bater ritmado das suas maos.
Eram bons tempos.
Hoje tem 50 anos e ja nao se senta no chao mas no sofa. Ja nao me faz cocegas e eu ja nao passo horas no seu colo. Mas senta-me ao seu lado e faz com que me aninhe no seu ombro. As maos unidas ao ritmo da musica sao uma constante. E bom haver coisas que nunca mudam.